domingo, 4 de setembro de 2011

Estudantes paraenses estão cada vez mais perto da Universidade


Belém é a primeira capital da Região Norte a fazer parte da Rede Emancipa, um movimento de cursinhos pré-universitários populares, que tem como objetivo garantir a universidade para todos, sobretudo para estudantes de escolas públicas. Uma alternativa oferecida gratuitamente, desde abril, para jovens e adultos que sonham cursar uma instituição de ensino de nível superior, mas esbarram na dificuldade financeira por não ter como pagar a preparação em cursos particulares.
A coordenação do Emancipa em Belém, denominado 'Isa Cunha', está a cargo de Leila Bentes e Anderson Castro. O cursinho popular funciona na Escola Amilcar Tupiassu, na avenida Fernando Guilhon, esquina com a travessa 14 de Março. Leila explica que mais do que ser um curso preparatório ao vestibular, busca-se garantir a participação político-social do alunado com fundamento na emancipação.
'Unimos as disciplinas com temas voltados para a realidade dos alunos, porque a preparação é para a universidade, para que quando estiverem na academia estejam embasados para discutir problemas sociais voltados à sua realidade de vida', explica ela. Diante disso, mesmo focados nos vestibulares da Universidade do Estado do Pará (Uepa), da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), há momentos que assuntos atuais, como a polêmica construção da hidrelétrica de Belo Monte, a corrupção na Assembleia Legislativa (Alepa) e a divisão geográfica do Estado do Pará são discussões em sala de aula e de palestras.
Vinte professores – todos alunos da UFPA - trabalham voluntariamente na formação dos 30 alunos que saem de suas casas todos os sábados para o cursinho. Uma delas é Celila Socorro Oliveira Sobrinho, de 46 anos. Ela pretende fazer a prova do Enem e está otimista, 'porque os professores são qualificados.
Celila diz que é aluna do terceiro ano do ensino médio e se inscreveu no Emancipa por ser a oportunidade de fazer a prova do Enem tendo um conhecimento próximo ao dos que se preparam nos cursos particulares. 'A gente que não dispõe de muito dinheiro, tem que buscar estas alternativas', diz, agradecida. Ela só lamenta as pessoas não aproveitarem mais o curso.
A professora de Redação do curso, Michelle Figueiredo, de 27 anos, revela que a participação no Emancipa como voluntária é uma forma de agradecimento às pessoas que a ajudaram a entrar na UFPA e cursar, atualmente, o quinto semestre do curso de Letras.
Ela conta que, assim como os alunos do cursinho, também se preparou em um que segue os mesmos princípios. A diferença é que já está estruturado e funciona com o incentivo da Prefeitura de Benevides. 'Também é um momento para eu praticar o que aprendo na universidade e quando eu entrar no mercado de trabalho não me sentir tão insegura'.
Até hoje morando em Benevides, Michelle recorda que se não fosse o cursinho popular não teria como fazer uma preparação e entrar na universidade. O marido dela é vendedor de açaí e o dinheiro que ele ganha é pouco para sustentar sozinho a família: ela e mais os quatro filhos do casal.
'Só com o ensino das escolas públicas não tem como garantir uma boa preparação, porque é muito precário e ainda têm as greves dos trabalhadores da educação', observa. Ela lembra, por exemplo, que quando fazia o ensino médio não chegou a ver redação e interpretação de texto de forma estruturada como viu no cursinho, porque os professores não aprofundaram o conteúdo.
O Emancipa se iniciou em São Paulo no ano de 2007 e a partir deste ano ampliou sua presença em outros Estados brasileiros. Além dos doze cursinhos localizados em São Paulo, foram inauguradas unidades em Porto Alegre (RS), Distrito Federal e Belém, correspondendo a mais de 1.300 vagas para alunos.
Por enquanto, o único vínculo que o Emancipa Belém tem com a UFPA é o fornecimento do material para os alunos, por meio da Pró-Reitoria de Extensão da UFPA (Proex). A manutenção só está sendo possível por causa do esforços dos professores-alunos universitários e da associação que a Rede Emancipa possui para captação de recursos.
Instituições de ensino garantem preparação
A Uepa é uma das instituições de ensino na capital que oferece a preparação gratuita para estudantes de escolas públicas ou que concluíram ensino médio na rede. A partir do projeto Cursinho Alternativo, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Ciências, há uma preparação específica para o vestibular. O coordenador do curso, Danilo Gomes, de 22 anos, explica que a exigência do certificado ou comprovante de matrícula da rede pública é para garantir o projeto às pessoas que realmente precisam.
Dividindo a coordenação com o professor de Física Altem Pontes, o estudante do último ano do curso de Química informa que atualmente são 240 alunos, divididos entre as turmas Prosel, Intensivo, 1ª Etapa e 2ª Etapa, que têm aulas de Português, Matemática, Biologia, Física, Química, Literatura e Redação.
O cursinho popular da Uepa funciona desde 2007 e no ano passado 2010 foram aprovados 15 alunos, na Uepa, UFPA e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFPA). Os professores do Cursinho Alternativo são todos alunos da Uepa dos Cursos de Licenciatura em Ciências Naturais. Danilo Gomes revela que a manutenção do curso está a cargo do professor Altem, que entende a iniciativa como uma contribuição à população de baixa renda.
Babá estuda para ser enfermeira; desde março participa de oficinas
Ivanicleia Rodrigues Duarte, de 21 anos, tenta pela primeira vez o vestibular e desde março aproveita as oficinas oferecidos pela Casa da Linguagem, localizada na avenida Nazaré com a rua Assis de Vasconcelos. Ela divide o seu tempo com o ofício de babá e estudante, para se prepara e concorrer a uma das vagas da Uepa para o curso de Enfermagem.
Na instituição, que oferece gratuitamente a alunos de escolas públicas várias oficinas, como redação, interpretação de texto e gramática, a jovem já fez das oficinas de gramática, leitura e produção de texto e, agora, redação. 'As oficinas têm me ajudado muito, porque estou no 3º ano do ensino médio à noite e os professores estão cansados e acabam perdendo o ânimo', diz.
Natural de Curralinho, a babá disse que veio para Belém ainda na adolescência e não teve a chance de estudar anteriormente. Por isso, contando com o apoio da patroa, está otimista em passar. 'Mas tenho certeza que se eu estivesse estudando sozinha em casa não teria muita chance, porque o ensino público está bem complicado', afirma.
O coordenador da Casa da Linguagem, Jair Melo, explica que o papel da instituição não é preparar os alunos para o vestibular e sim 'atender os alunos das escolas públicas formação complementar'. Por esse motivo, ressalta ele, não há nenhuma obrigação do espaço em oferecer formação seguindo o conteúdo programático do vestibular. 'O que temos é ciclo de palestras das leituras obrigatórias, onde os estudantes que se preparam para o vestibular tenha mais uma alternativa para reforçarem o ensino em sala de aula', afirma.
Fonte: Jornal Amazônia

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