Professor titular do curso de engenharia mecânica e reitor da UFPA há quatro anos e meio, já reeleito, Carlos Edilson Maneschy vê esses desafios como motivação para que a instituição avance. O reitor conversou com os repórteres Ismael Machado e Cintia Magno.
P: Nesta entrada de 2014 a universidade enfrenta alguns desafios. Que cenário já se começa a vislumbrar?
R: Esses desafios são um estímulo para que ela avance cada vez mais. E eles vão desde a infraestrutura, apesar do grande avanço que nós já temos acumulado. A universidade hoje vive um momento expressivo de reformatação de seus espaços acadêmicos. Uma das coisas é a contínua expansão das atividades da universidade, sobretudo pelo interior. Nós estamos iniciando já há um ano o que gente costuma chamar de interiorização da interiorização. Há trinta anos, ela começou a fazer oferta de curso superior pelo interior a partir do núcleo de Belém. Esses cursos eram todos intervalares e as pessoas se deslocavam daqui para ofertar esses cursos pelo interior. Essa segunda fase da interiorização é o momento em que consolidamos aqueles núcleos sob a forma de campus, com professores locais, com o aumento do corpo docente e de técnicos. Nos últimos quatro anos, nós mais do que duplicamos o número de professores e quase triplicamos o número de professores pelo programa Reuni [Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais]. A expansão da universidade, a partir desse programa, foi quase que integralmente no interior. É uma missão da universidade e não é por outra razão, também, que a gente já viu, por um esforço grande nosso, a instituição dessas duas novas universidades que nasceram a partir dos nossos ambientes em Santarém e Marabá. E, agora, a universidade já apresentou o projeto ao MEC da instituição da Universidade do Nordeste do Pará, que seria desdobrada a partir do campus de Bragança. No outro lado, ainda falando na linha dos desafios, temos que expandir e consolidar o número de cooperações internacionais na universidade. Uma universidade precisa, cada vez mais, se integrar e cooperar com instituições de todo lugar. Hoje temos experiências com mais de vinte universidades já estabelecidas e precisamos dobrar ou triplicar isso. Não há limites para essa expansão. O que a gente vê é que a universidade, há um tempo, era muito tímida em relação a esse movimento, em função, talvez, da pouca qualificação ainda do quadro docente. À medida que isso aumenta, a gente tem uma nova perspectiva de atração e de promoção dessas mobilidades, que deve ser dada de forma recíproca, daqui para fora e de fora para dentro.
P: Você falou em qualificação e, aí, entramos na questão do aumento da pós-graduação na Região Norte. Como você avalia esse aumento nos últimos tempos?
P: Você falou em qualificação e, aí, entramos na questão do aumento da pós-graduação na Região Norte. Como você avalia esse aumento nos últimos tempos?
R: A avaliação está colocada. Nós precisamos entender que ela é fundamental. Mas como toda avaliação, também tem deficiências. Dou como exemplo o próprio curso de engenharia mecânica, no qual sou professor. Nós não fizemos questionamentos à avaliação. O que fizemos foi, a partir daí, usar o que a avaliação indicava e promovemos alterações que resultaram num aumento significativo no nível do curso.
P: E nesse caso específico do curso de jornalismo?
P: E nesse caso específico do curso de jornalismo?
R: No curso de jornalismo em particular, ao nosso juízo, há um equívoco. Em primeiro lugar, os alunos de jornalismo, de maneira frequente e essa é a informação que eu recebo, boicotam o exame [Enade, Exame Nacional de Desempenho de Estudantes]. Não quero, aqui, entrar nas avaliações sobre esta medida, mas, de qualquer maneira, essa é uma realidade. Agora, mesmo com essa situação, nós estamos fazendo um recurso, e aí, sim, entendemos que a avaliação foi equivocada: entre as duas avaliações do Enade, houve uma avaliação in loco do Ministério da Educação no curso de jornalismo e ela indicou um nível do curso melhor do que aquela avaliação do Enade. Quando isso acontece, pelas próprias regras do MEC, a suspensão da oferta não deve ocorrer. Então estamos aí em um recurso, porque entendemos que isto não deveria ter acontecido. O jornalismo da Universidade Federal do Pará é um curso em que a grande maioria dos professores tem nível de doutorado. Isso tem que ser levado em consideração. Reconhecemos que há problemas de infraestrutura no curso e a universidade está reunindo esforços para alterar isso. Mas com relação ao boicote dos estudantes, o que temos feito é tentar, através dos professores, fazer com que os alunos possam repensar um pouco essa tática, que me parece que não é adequada.
P: Também foi muito alvo de críticas a questão da privatização dos hospitais Bettina Ferro e Barros Barreto. O que ocorreu, na verdade? De que forma isso vai nos afetar?
P: Também foi muito alvo de críticas a questão da privatização dos hospitais Bettina Ferro e Barros Barreto. O que ocorreu, na verdade? De que forma isso vai nos afetar?
R: Primeiro, nós temos um problema de financiamento gravíssimo. Só quem não conhece os hospitais é capaz de não reconhecer que a situação lá é caótica em termos de oferta de serviços decorrente da falta de recursos. Hoje a oferta dos serviços é caótica. Nós também temos problemas em decorrência de uma política que vem desde a época do governo de Fernando Henrique Cardoso, onde não se abre mais concurso público para servidores de hospitais universitários. Em decorrência disso, todas as pessoas que foram saindo, que eram da universidade e que trabalhavam nos hospitais, eram repostas por terceirizados contratados na Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa, a Fadesp, com recursos que o hospital arrecada do SUS [Sistema Único de Saúde]. Mais da metade dos funcionários dos hospitais universitários já são terceirizados, isto é uma realidade hoje. E o Tribunal de Contas da União [TCU] disse que essa contratação é ilegal e não pode mais continuar desde 2008. Nós não fizemos nada porque não podíamos distratar essa força de trabalho. Senão teríamos que fechar os hospitais. São mais de 700 servidores. Portanto, o hospital não poderia abrir sem eles. A posição do Governo Federal foi criar a empresa pública para fazer a gestão dos hospitais universitários. Esta criação foi provocação permanente dos reitores, porque tinham a espada do TCU sob as suas cabeças, anunciando até a colocação dos reitores no cadastro de administradores ímprobos. Em 2010, então, o Governo acenou com a criação da empresa pública, em 2011 o Congresso discutiu essa situação e aprovou, e a empresa começou a se instalar em 2012. Em junho de 2013, a CGU [Controladoria Geral da União] esteve aqui fazendo auditoria de pessoal e identificou que nós ainda mantínhamos a contratação dos servidores na Fadesp à despeito de ter uma solução apresentada pelo governo. A princípio, teríamos que resolver o problema até dezembro de 2013, eu disse que não dava tempo. O prazo estabelecido, então, foi para junho de 2014, para que a gente pudesse distratar todas as pessoas e avaliar a possibilidade da universidade aderir à empresa. Esta é a realidade até aqui. Então, a universidade começou a fazer a discussão interna. Primeiro: é uma empresa pública e eu não entendo isso como privatização. O que vai mudar? Do ponto de vista do acesso ao serviço, nada muda porque o SUS é a única porta de entrada no sistema e será. Não tenho dúvida que o serviço irá mudar porque ele está caótico e pior do que ele está, não vai ficar. Vão ser contratados, e disso eu não tenho dúvida, mais servidores do que esses 700 que estão lá agora. Não haverá privatização na medida em que a entrada única é pelo SUS, na medida em que todos os servidores, esses sim, serão contratados por concurso público da empresa. Eu não tenho dúvida, e o tempo vai dizer, que o serviço será mais bem prestado do que hoje sem ameaçar o caráter público da assistência.
O TCU disse que tem que distratar 700 pessoas. Portanto, a gente vai ter que distratar e o reitor vai ter que cumprir isso. Lamento, mas tenho que cumprir uma determinação e sobre ela não há outra alternativa. A universidade vai bancar dos seus próprios recursos um programa de capacitação para essas pessoas para que elas possam concorrer em algum nível de igualdade nesses concursos que vão estar colocados. A maioria dos hospitais universitários já tomou a decisão de aderir e também já estão distratando pessoas desses outros hospitais. Então, não há muito mais o que fazer. Não há outra alternativa.
(Diário do Pará)
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