sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Marituba sofre com a falta de serviços públicos

A movimentação nas ruas do bairro do Che Guevara, em Marituba, é intensa. Às 17h, as vias cercadas por mato ficam tomadas por alguns dos 12.512 habitantes que vivem no local. Sem asfalto, a Avenida João Batista deveria ser caminho de algumas das linhas de ônibus que circulam pelo bairro. Não é. Nas cercas das casas, os sacos de lixo acumulados denunciam a deficiência de outro serviço público. A situação vivenciada pelos moradores do bairro - que hoje é chamado de Conjunto Residencial Almir Gabriel - é a mais crítica dentre os que compõem o município de Marituba, identificado em pesquisa divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como o que apresenta a maior concentração de pessoas morando em situação de precariedade.
O estudo aponta que 77,2% da população de Marituba vive em áreas de invasão. Somente no antigo bairro do Che Guevara, há 3.109 residências nesta situação. “Essa invasão é uma vitória para nós”, acredita Maria Oneide Cordeiro. Moradora do bairro há 13 anos, a dona de casa se mudou para o local poucos anos após o início da invasão que deu origem ao bairro. Desde então, acompanhou algumas mudanças, mas, para ela, muito ainda precisa ser feito. “Para isso aqui poder ter esse nome de conjunto residencial ainda falta muita coisa”. De acordo com a memória da dona de casa, que criou os cinco filhos na área, algumas referências do início da invasão ainda compõem o cenário atual do bairro. O mato e a vala a céu aberto que cerca as ruas são exemplos disso.
“Quando eu cheguei, isso aqui era uma lagoa, só mato. As pessoas iam chegando e iam construindo em cima do mato”. Hoje, a grande diferença está na rede de energia elétrica, que já atende à maioria das casas. De qualquer modo, falta saneamento, serviço de esgoto, distribuição de água. “Foi rápido, passou dois anos que foi invadido e botaram energia”, lembra Francisco Bezerra, que mora na área há 15 anos. “Mas não tem água, é tudo poço. Não tem também asfalto... aqui, quando não é poeira, é lama que vem com a chuva. Os ônibus que antes passavam nessa rua não passam mais. Até o caminhão do lixo não passa tem umas três semanas".
Saneamento: secretário admite dificuldades
O gerente da Divisão de Recursos Naturais do IBGE, Pedro Edson Bezerra, afirma que o critério determinante usado pelo instituto para definir áreas subnormais é a situação da propriedade. Aliado a isso, a ausência de serviços de coleta de lixo, esgotamento sanitário e acessibilidade identificam as moradias precárias. Segundo ele, a maioria das moradias de Marituba não possui pelo menos um desses serviços, o que coloca o município no topo do ranking nacional. “Esse é um processo que não é exclusividade da Região Metropolitana de Belém, mas é agravado aqui pelas suas características geográficas”, afirma.
De acordo com secretário de Obras e Terras de Marituba, Pedro Paulo Bezerra, assim como antigo bairro do Che Guevara, a maioria das áreas destacadas pelo IBGE são provenientes de ocupações desordenadas. Mas, segundo ele, os moradores dispõem dos serviços públicos disponibilizados pelo município. “Eles não têm o título das casas, mas têm os serviços. A coleta de lixo é realizada três vezes por semana”. Segundo ele, para regularizar a situação, a prefeitura de Marituba está realizando o cadastro dos moradores do bairro Novo Horizonte, para que eles passem a ser titulares das casas onde moram há mais de 15 anos, procedimento que também deve ser realizado no bairro Almir Gabriel (antigo Che Guevara).Ainda assim, segundo ele, o principal problema enfrentado pelos moradores dessas áreas é outro.
“O mais preocupante é o saneamento. Se eu gasto R$ 1 em obras de saneamento, eu deixo de gastar R$ 4 em saúde”, afirma.“Atualmente, está em andamento a obra para distribuição de água e de esgoto no Che Guevara pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que começou em 2004, mas ainda não terminou”.









(Diário do Pará)

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