quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Médicos lutam pela vida de bebês siameses

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, não foi um bebê com duas cabeças que nasceu em Anajás, mas dois bebês colados em um mesmo corpo. “Um atraso na divisão do ovo que originaria dois gêmeos normais formou duas crianças coladas”, explica a ginecologista e obstetra Neila Dahas, diretora assistencial da Santa Casa.
“Quero que ela (a mãe dos bebês) entenda que não tem um filho monstruoso, um filho com duas cabeças, e sim que ela tem dois filhos”. A mãe, Maria de Nazaré, decidiu chamá-los de Emanoel e Jesus. Segundo a médica, a possibilidade de separação de corpos “seria absolutamente impossível”. São duas cabeças, dois cérebros e duas colunas - o que indica que são dois bebês - mas eles dividem o mesmo fígado, coração, pulmões e a pelve.
Os médicos lutam para manter os bebês estáveis, mas a situação deles é delicada. Uma das crianças “já está bastante cianótica, o rosto todo azulado, e a outra continua rosadinha respirando bem”, informa Dahas. Eles estão na UTI neonatal com acompanhamento de pediatra, neonatologista, enfermeiro, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e toda a estrutura necessária para mantê-los vivos.
No último caso semelhante a este registrado na Santa Casa, os bebês permaneceram no berçário por cerca de um mês e meio e morreram.
A mãe dos bebês fez o pré-natal em Anajás, mas não fez nenhuma ultrassonografia nem sabia que estava grávida de gêmeos. Só no hospital o médico percebeu as duas cabeças. Ele ainda achou que eram gêmeos separados e só no momento da cirurgia percebeu que eles dividiam o mesmo corpo. A mãe conta que os dois mamaram, mas os médicos ainda não descobriram se eles têm dois ou um só estômago. “O corpo parece de uma criança normal”, diz Dahas.
A retirada de uma das cabeças, a única coisa que poderia ser feita, segundo a médica, esbarra na questão legal e ética. “Se estiverem com os dois cérebros funcionando, como vamos escolher qual a cabeça que vai ser retirada?”, questiona Dahas.
Mesmo quando o acolamento se dá só no tronco ou na pelve, a cirurgia de separação nunca é imediata porque as crianças precisam se desenvolver e se estabilizar, e quase sempre a cirurgia é feita depois do primeiro ano de vida. “Então, nós não temos pressa no sentido de pensarmos na possibilidade de cirurgia. O que temos que pensar neste momento é em manter as crianças em boas condições e ver que evolução elas terão”.
Dahas questionou a pressa em trazer as crianças para Belém, “com diferença de pressão porque vieram de avião”. “Nós questionamos o fato de elas terem atravessado a ilha do Marajó toda pra chegar a Belém com tanta brevidade. Elas nasceram na madrugada de ontem (anteontem). Se estavam estáveis, se estavam mamando, se estavam bem, por que vieram logo?”
O dois bebês chegaram a Belém às 13h10, num táxi aéreo que pousou no Aeroclube do Pará. Junto, vieram alguns familiares da criança.
Antes da chegada, uma grande estrutura para atendimento aos bebês já havia sido montada no aeroporto. Uma ambulância e um carro da Ronda Tática de Belém (Rotam) já aguardavam a chegada do avião para ser feito o transporte das crianças e dos familiares até a maternidade Santa Casa de Misericórdia, onde já havia um leito reservado na UTI Neonatal.






(Diário do Pará)

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