domingo, 18 de dezembro de 2011

Chuvas acendem o alerta nos municípios do Pará

Com a notícia da aproximação das chuvas, moradores de pelo menos 63 pontos de alagamentos de Belém, Ananindeua e Marituba começam a sentir a tensão que se aproxima: a rotina de correr para levantar móveis e eletrodomésticos do chão, escoar água, perder bens materiais, limpar o imóvel e ficar impedido de sair ou entrar em casa a cada chuva. E, claro, rezar para que a próxima não seja tão forte e não cause os mesmos transtornos de novo. As prefeituras do três municípios garantem estar trabalhando com limpeza e dragagem de canais, valas e bueiros para reverter o quadro. Só na capital há 52 pontos para serem resolvidos. Mas quem mora nas áreas de enchentes e já se acostumou a ouvir o poder público dizendo que vai ajudar, a paciência já se esgotou. Em locais mais críticos, muitos moradores já saíram de casa e tentam, sem sucesso, vender os imóveis. Nas ruas sem pavimentação, a lama vai criar atoleiros que vão dificultar até o trabalho da Polícia Militar.
O canal da travessa Timbó, entre o canal da José Leal Martins (um dos mais problemáticos de Belém) e a rua Acatauassu Nunes, há 20 anos tem ocorrências de alagamentos desastrosos com água imunda, que impede os moradores de sair ou entrar, além de causar danos diretos aos imóveis e bens. Mais que um problema de saneamento, o canal é um problema de saúde, pois, sem ter para onde escoar, a água parada vira criadouro do mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue. E é possível até ver os insetos na água. O presidente da Comissão dos Moradores da Timbó (Comat), o taxista Delson Mourão, 41 anos, conta que várias casas foram adaptadas com elevação do piso e muretas de contenção, medidas que não funcionaram. Pelo menos dez casas estão abandonadas ou à venda. Na sexta-feira, 16, havia homens da prefeitura de Belém trabalhando no canal, e uma emissora local de televisão estava lá para fazer uma entrevista com o secretário municipal de Saneamento.
'Esse canal não deveria existir, mas foi feito num erro de projeto, pois a água não tem para onde ir. A prefeitura nem vem aqui para ajudar ao menos jogando um aterro. O Ministério Público do Estado do Pará (MPE) já entrou com uma ação obrigando a prefeitura a tomar alguma medida. Disseram que iam levantar a mureta do canal, o que não resolveria, mas até agora nada. Nós é que aterramos com nosso dinheiro. Temos um monte de ofícios para a Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) sem resposta. O inverno está chegando, nos preocupa e continuamos abandonados', diz Delson.
Em Ananindeua, há várias ruas onde o saneamento básico ainda não chegou. Os locais de invasão são os mais afetados pelas chuvas, como as várias vias baixas do bairro 40 Horas (onde os serviços de saneamento da prefeitura estão só na entrada da área), nas proximidades do Ariri. A empregada doméstica Regina Célia Campos, de 51 anos, mora na passagem Oliveira, uma das muitas vias que cruzam com as estrada do Ariri. Para ela, a aproximação do inverno é motivo de preocupação, pois o lago das Sucuris, que fica no centro do loteamento, transborda e invade os imóveis. As casas já nem têm mais como serem adaptadas com elevação de assoalho e aterros do lado de fora, pois já perderam vários centímetros de altura. Lá os moradores também fazem aterros com os próprios recursos, mas os caminhões acabam destruindo todo o trabalho. O lixo também é um problema que se acumula, pois o caminhão de coleta chega a passar quatro semanas sem aparecer.
'Aqui quase todas as casas vão para o fundo. Muitos já perderam várias coisas e por isso até foram embora. Minha casa está à venda, mas quem vai querer comprar? Estamos vivendo que nem caranguejos: na lama. Ano que vem tem eleição e os políticos vão vir, como sempre vêm e sempre nos esquecem', afirma Regina.
Prefeituras garantem que estão trabalhando
Em nota, a Secretaria Municipal de Saneamento de Belém (Sesan) diz que começou em agosto (com 20 dias de antecedência), a operação 'Inverno' nas áreas de canais, com dragagem de canais e desobstrução da tubulação pluvial, com limpeza manual, cinco retroescavadeiras, 12 caçambas e um caminhão hidrojato. O trabalho continua até o final até fevereiro do ano que vem, quando deve terminar o inverno. Já foram dragados 36 dos 65 canais da cidade. Até ontem haviam sido retirados 27 mil metros cúbicos de entulhos (dez piscinas olímpicas de 50x25 com 2,20 metros de profundidade). Com essa quantidade de entulhos, a Sesan responsabiliza a população pela sujeira e pelos bueiros, valas e canais entupidos. Epede que a população colabore e não jogue lixo. Equipe de educação ambiental estão nas ruas para conscientizar.
O secretário de Obras e Terras de Marituba, Pedro Paulo Bezerra, afirmou que há poucos pontos de alagamentos no município, mas há vários pontos, não catalogados em levantamento oficial, de enchentes rápidas. Porém alguns dos mais complicados estão na rodovia BR-316, que é de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e por isso não pode sofrer qualquer intervenção municipal. Na entrada da Alça Viária, uma rodovia estadual, também ocorrem problemas, mas que não podem ser resolvidos pela prefeitura. 'Os canais, principalmente o Santa Clara, já estão passando por dragagem e as valas e bueiros estão sendo desobstruídas. O trabalho para isso é dinâmico, mas estamos no nível do mar, o que reduz nosso potencial de dragagem
Contudo, uma das áreas mais afetadas pelas chuvas é o bairro Almir Gabriel, a antiga invasão Che Guevara. Lá, as ruas ainda são de terra. Atualmente está sendo feito um projeto de instalação de rede de água e esgotos, mas que não previa pavimentação. 'Não havia no projeto qualquer tratamento para a trafegabilidade. Atualmente a prefeitura não tem recursos para asfaltar todas as ruas do Almir Gabriel. Estamos aguardando recursos do governo do Estado para 3 km de vias', disse.
A Secretaria de Saneamento e Infraestrutura de Ananindeua (Sesan) informa, em nota, que promove ações para prevenir alagamentos em alguns pontos considerados críticos. Entre eles está a ponte Riacho Doce, na rua Cavalcante, que já recebeu os serviços emergenciais e será finalizada com a obra de retificação do rio Maguariaçu. Outro ponto é a avenida Arterial 5, que já recebeu drenagem e pavimentação, mas em algumas chuvas ainda sofre com alagamentos devido à proximidade de um canal. Em janeiro de 2012 será feito um serviço de dragagem no canal para resolver o problema. A rua Rio Purus, no Paar, também recebeu uma nova rede de drenagem e vai receber limpeza na rede para evitar que água fique empoçada.
Festas de fim de ano serão debaixo d’água, prevê meteorologia
As previsões do 2º Distrito de Meteorologia (Disme) apontam que as festas de Natal e Ano-Novo podema ser debaixo de chuva. O inverno paraense deve começar, efetivamente, a partir da próxima quarta-feira, com chuvas quase todos os dias da semana, principalmente à noite e entrando pela madrugada. A cada dia deve cair uma pancada de chuva forte de curta a média duração, seguida de chuvas finas que devem se estender por até seis horas. E mesmo com tanta água, as temperaturas nos dias de sol devem se manter entre 32° C e 34° C nos dias de sol. Com nebulosidade, a temperatura deve ser de 28° C. Durante as chuvas deve cair para entre 22° C e 24° C. A temperatura deve diminuir em janeiro, quando também as chuvas se tornarão mais intensas.
O chefe da divisão de Meteorologia do 2º Disme, José Raimundo Abreu, ressalta que apesar das previsões, o inverno não deve ser rigoroso, mas ainda pode ficar acima da média de 203 milímetros de chuva. Espera-se para este mês de dezembro uma média de 250 mm. Até o dia 14 deste mês, já havia chovido 100 mm. 'Estamos com uma previsão de ser semelhante ao inverno do ano passado. Porém, estamos passando por situações atípicas graças ao fenômeno La Niña. Nos próximos 15 dias, em 12 deles deve chover', afirma.
Abreu acredita que as chuvas desse inverno possam causar alagamentos, mas, felizmente, nenhum desastre. Contudo, o poder público precisa preparar a cidade e a população também precisa colaborar ao não jogar lixo nas ruas, que possam cair nos canais e entupir bueiros. 'Toda essa água terá dificuldade de escoar. Por exemplo, 300 mm de chuva, numa área de 1.000 metros quadrados, equivalem a 30 mil litros de água. Se os bueiros e valas não estiverem limpos podem ocorrer alagamentos', explicou.




Fonte: Jornal Amazônia

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