sábado, 24 de dezembro de 2011

Desconfianças e medos cercam projeto de Belo Monte

A usina hidrelétrica de Belo Monte está prevista para entrar em operação apenas em 2015, mas a obra, que poderá superar R$ 30 bilhões e é a maior do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), já alimenta um mar de polêmicas e dúvidas. Num ponto, contudo, todos parecem concordar. É preciso agir com urgência para, pelo menos, amenizar os problemas causados por um empreendimento desse porte no coração da Amazônia. Ao mesmo tempo, garantir que a exploração do potencial energético da região deixe benefícios para a população local e não apenas os possíveis impactos negativos.
Para licenciar a obra, a empresa Norte Energia se comprometeu a cumprir uma série de condicionantes, algumas consideradas emergenciais, mas muito do que foi prometido não está saindo do papel no ritmo esperado.
Favorável à construção da usina, a prefeita de Altamira, Odileida Sampaio (PSDB), diz que diferente da obra, que segue o cronograma esperado, a implantação das condicionantes emergenciais estavam em atraso. Por isso, chegou a pedir, em setembro deste ano, a suspensão da licença ambiental da usina.
O documento enviado à presidente Dilma Rousseff, ao Congresso e ao governador do Pará, Simão Jatene, faz um apelo para que se cumpra o que foi prometido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 22 de junho de 2010.
Na carta, Odileida Sampaio diz que diante dos benefícios que esperava, o que tinha restado ao município eram “penosas frustrações, como mais pobreza, insegurança e caos social”.
Em entrevista ao DIÁRIO, Odileida afirma que, após a divulgação da carta, a empresa iniciou a construção de duas escolas e está iniciando a obra de um hospital com 100 leitos, além de ter tomado medidas para ajudar a organizar o trânsito da cidade, mas essas medidas ainda são uma gota d’água no oceano de problemas causados por Belo Monte na região.
Apesar disso, a prefeita não apoia os movimentos que pedem a paralisação da usina. Segundo ela, se cumpridas as condicionantes, a região poderá se beneficiar do empreendimento. Ela defende, porém, que será necessário ampliar também os investimentos públicos nos 11 municípios que ficam na área de influência de Belo Monte. “O governo federal também tem que fazer investimentos. Não pode esperar só pela empresa”, diz.
Odileida afirma que está confiante de que a partir de agora a relação será mais amistosa e que o ritmo de investimento nas condicionantes será o mesmo das obras em Belo Monte. “Se for executado tudo que está no papel, com certeza vai ser bom”.
IMPACTOS
O município de Altamira é a principal sede de Belo Monte e já sente os impactos. A população deve praticamente dobrar, sobrecarregando serviços públicos, além do impacto sobre preços de produtos e serviços em Altamira e arredores. Para se ter uma ideia, um imóvel que até um ano atrás era alugado por R$ 1 mil, hoje está custando R$ 3 mil mensais. Um quarto simples, cujo aluguel custava menos de R$ 200,00 por mês, está sendo oferecido no mercado por um salário mínimo (R$ 545,00).
O procurador da República Ubiratan Cazetta, que acompanha várias ações contra o processo de licenciamento da usina e denuncia o não cumprimento das medidas para reduzir os impactos, defende que haja um volume de investimento em ações estruturantes nos municípios sob influência do empreendimento e critica a política de ações paliativas.
Segundo ele, contudo, falta aos municípios estrutura para fazer frente a uma obra de R$ 30 bilhões. “O primeiro pedido de Altamira para a empresa foram cinco picapes, coletes para os guardas de trânsito e 50 semáforos. Para uma cidade que vai passar a sofrer com o inchaço, o ideal seria pedir um excelente plano de desenvolvimento urbano e contratar os melhores urbanistas do Brasil para fazê-lo. É preciso olhar essa relação como sendo de longo prazo e pensar a cidade como uma cidade para o futuro. Construir uma escola ou prédio de um hospital não é difícil para quem tem uma obra de R$ 30 bilhões. Agora quem vai pagar médico, a folha de professores?”







(Diário do Pará)

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