sábado, 24 de dezembro de 2011

Deputado diz que falta compromisso com o Estado

A decisão tomada esta sexta pelo governador Simão Jatene, desencadeando uma série de ações que vão afetar os interesses do Consórcio Construtor Belo Monte, já era mais do que previsível quando se leva em conta o histórico dos atos praticados pela empresa nestes poucos meses que marcam a etapa inicial de execução da obra. Repetidas e surpreendentes demonstrações de insensibilidade, quando não de arrogância, têm atraído para o consórcio a irritação e a repulsa de setores da sociedade e das elites dirigentes do Pará cuja postura em relação ao complexo hidrelétrico tem sido de aprovação, tolerância e boa vontade.
Agindo como tem agido até agora, o consórcio tende a se indispor perigosamente com o conjunto da opinião pública paraense e, pior, se credencia a se tornar alvo de retaliações. Basta lembrar que o caso recente da compra de caminhões nem chega a ser exatamente uma novidade. Antes mesmo de iniciar os trabalhos de engenharia no rio Xingu, o CCBM já havia causado furor por aqui ao fechar com a Caterpillar, em São Paulo, a compra de uma grande partida de máquinas pesadas. A repetição nesse tipo de negócio mostra no mínimo um estilo temerário. É estranho, mas, ao privilegiar o confronto, o consórcio parece disposto a desafiar e afrontar o Estado do Pará e sua população.
A informação sobre a mudança de postura do Governo do Estado foi antecipada no final da manhã pelo deputado Martinho Carmona (PMDB), logo após participar, na Secretaria da Fazenda, de uma reunião para tratar especificamente do assunto com os secretários José Tostes Neto (Fazenda) e David Araújo Leal, titular da recém-criada Secretaria de Indústria, Comércio e Mineração. Além de Carmona, presidente da comissão criada pela Assembleia Legislativa do Estado para fazer o acompanhamento da implantação da hidrelétrica de Belo Monte, participaram também do encontro o presidente da Assembleia Legislativa, Manoel Pioneiro, e os deputados Raimundo Santos, integrante da mesma comissão, e Márcio Miranda (DEM), líder do governo.
Segundo relato de Martinho Carmona, o governador Simão Jatene foi informado o tempo todo, por telefone, do que estava sendo discutido. “O governador ficou indignado”, disse ele, ao revelar que o Consórcio Belo Monte adquiriu por R$ 48 milhões um lote de 118 caminhões da Mercedes Benz. A compra foi faturada em São Paulo quando deveria ter sido faturada em Belém, já que aqui funciona uma concessionária (Rodobens) da fabricante.
De acordo com o deputado, a Norte Energia e o Consórcio Construtor mais uma vez prejudicam o Pará, fazendo lá fora uma operação que, se feita aqui, geraria receita tributária para o Estado e injetaria mais dinheiro na sua economia. “Esse comportamento nos deixou revoltados e enfurecidos”, afirmou Martinho Carmona, acrescentando que comunicou exatamente esse sentimento ao presidente da Norte Energia, Carlos Nascimento, ao final do encontro.
Para o presidente da comissão de acompanhamento de Belo Monte, se a Norte Energia não voltar atrás em uma semana na decisão de comprar os caminhões em São Paulo, o presidente da empresa, Carlos Nascimento, terá perdido completamente a credibilidade. E agora, conforme destacou Martinho Carmona, com outras razões que também reforçam a falta de compromisso do consórcio em relação ao desenvolvimento econômico e social do Pará.
O deputado revelou que até um contrato de postagem, firmado pela Norte Energia, foi assinado com a Empresa de Correios e Telégrafos em Minas Gerais, quando poderia perfeitamente ser assinado no Pará. Outra denúncia que deixou indignados os membros da comissão diz respeito à contratação de pessoal. “Nós temos informações seguras de que o consórcio está trazendo de fora, principalmente de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, até os motoristas que vão dirigir os caminhões, o que exclui a possibilidade de emprego para os profissionais paraenses”, finalizou.







(Diário do Pará)

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