sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Guardas ocupam terreno para evitar novas invasões

Bastava chegar ao conjunto Cordeiro de Farias para ouvir os primeiros relatos sobre o assunto que tem dominado as conversas dos moradores locais. Ainda aturdidos com os embates dos últimos dias, que levaram guardas municipais e ocupantes a se enfrentarem durante a desocupação de uma área, eles tentavam retomar a rotina, mantendo, contudo, a atenção no movimento de manifestantes, curiosos e repressores.
O espaço desejado em questão tem aproximadamente dois hectares (equivalente a dois campos de futebol) e está localizado na avenida São Clemente, bairro do Tapanã. O trajeto para adentrá-lo é feito por um comércio também ocupado desordenadamente, onde dividem espaço estabelecimentos, ambulantes, ônibus, motos, taxis, bicicletas e centenas de pedestres tentando atravessar a confusão.
Com esforço, se chega, enfim, à entrada do terreno. Antes, contam os ocupantes, que totalizam 197 famílias, ali já começava o acúmulo de lixo e mato. Abandonado há pelo menos 30 anos, o local seria foco de doenças, prostituição e criminalidade. “Os moleques vinha fumar maconha aqui, assaltavam e se escondiam no meio das árvores e uma vez até uma garota foi estuprada. Fora os corpos que ‘desovavam’ (abandonavam) nos fundos”, conta a dona de casa Shirla Pinheiro.
Ontem, já após a desocupação, o cenário era diferente. Três caminhões e uma escavadeira faziam a retirada de entulhos e nivelavam a superfície. Madeiras que identificavam as futuras casas e lonas que já haviam sido erguidas eram despejadas na terra levada embora. E a cada carregamento que partia, Manoel Silva lembrava o investimento feito. “Deixei de pagar meu aluguel para comprar R$ 150 em tábuas e eles (guardas municipais) simplesmente quebraram tudo. Foi o pior tratamento possível. Eles chegaram chamando palavrão, empurrando a gente e não apresentaram nenhum documento”, criticou o aposentado.
SITUAÇÃO
Além de Manoel, cerca de 30 pessoas também continuavam no local pela manhã assistindo às ações da prefeitura. Alguns com marcas visíveis dos últimos confrontos. Um rapaz teve a perna cortada por uma bala de borracha, outra mulher ficou com uma vermelhidão no rosto e Shirla mostrava uma ferida na perna, resultado de uma queda.
“Só saímos daqui quando nos provarem que o terreno é mesmo da Guarda e não do Ipamb (Instituto de Previdência e Assistência do Município de Belém). Queremos uma solução, porque não admitimos que só comecem a se preocupar com o terreno depois de nós termos ajeitado ele todinho. Assim é muito fácil depois construir algo que não será nem nosso”, afirma o autônomo Marcos Wellington. No início da noite, os guardas municipais deixaram o terreno e passaram a fazer rondas para evitar a reocupação, enquanto um grupo de moradores permanecia em frente ao terreno.
RECURSO
Questionado sobre denúncias de que algumas pessoas ocupariam a área para depois alugá-la, eles foram enfáticos: “aqui só tem moradores da área. Todo mundo se conhece. São pessoas que vivem de aluguel e decidiram se unir em busca de um espaço seu”, comentou. Com as expectativas frustradas, restou a eles recorrem ao Ministério Público ou apelar à própria prefeitura. “Isso não pode ficar assim. O governo precisa nos ajudar a viver com dignidade e a justiça também tem que nos dar apoio contra esses abusos”, disse Marcos.
A Guarda Municipal de Belém ratifica que todos os documentos comprovam que o terreno é da instituição e que permanecerá fazendo rondas no local por tempo indeterminado. O comando da GMB abriu investigação para identificar a procedência dos 24 coquetéis molotov, três rojões e cinco baladeiras apreendidas com os invasores do terreno destinado à construção do quartel da corporação, no Tapanã. O arsenal apreendido surpreendeu o comando da operação, que desconfia da infiltração de grupos de guerrilha urbana entre os manifestantes.
A comandante da GMB, Ellen Margareth, voltou a afirmar que a denúncia da tentativa de invasão partiu dos próprios moradores. “Estivemos no local domingo e evacuamos a área sem incidentes. Na segunda-feira (2), os invasores voltaram e novamente retiramos as demarcações, sem incidentes. Mas, na terça, já houve resistência, assim como na quarta-feira”, lembrou. Ela ainda garantiu que os ocupantes vêm de outros bairros, como Cabanagem, em Ananindeua, e prejudicam os próprios moradores do entorno.














(Diário do Pará)

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