segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O caso do gato envenenado

Por motivos que nada têm a ver com o caso atual, leio em coluna idônea que no Brasil há uma marola de sinofobia varrendo, de leve, o país. 
 Coisas comerciais. Nada entendo disso. Li, porém, a vida inteira, ficção de crime e descrições de assassinatos nas folhas. 
 Sou classe C pouco esclarecida. 
 Os chineses são mestres em surpreender. Uma espécie de marcianos que aterraram lá no fim do mundo onde pintam o sete. 
 Sim, deram-nos, se é verdade, os fogos de artifício, o espaguete, o genocídio planejado, cortesia do camarada Mao e seus pensamentos ("Homem mau merece bala na testa"), e que mais? 
 Há chinês que não tem fim. Deles será a Terra e tudo que nela brilhar, florescer e der uma nota, juntamente conosco, a Rússia, a Índia e a África do Sul. 
 Chamam-nos de BRICS, como se uma boutique ascendente. 
 Chinês come somente uma vez por mês, dizia o sambinha. Chamava-se Lig-lig-lé e andava na ponta do pé, sempre segundo nosso cancioneiro. Não é bem assim. 
 Os chineses comem e espalharam pelo mundo iguarias insuperáveis. Para mim, só perdem para a cozinha italiana. 
 Por outro lado, são chegados a pratos inaceitáveis indignos de quem pertence ao BRICS. 
 Comer cérebro de macaco de pausinho, com o bicho ainda meio vivo no meio da mesa, é inaceitável. Cachorro, só na hora do desespero, e não como prato principal servido no China Pau às quartas-feiras. 
 Castigo anda a cavalo (que, aliás, eles também comem, mas isso beira o universal ) me informou um jornal semana passada. 
 No sul da China, na província de Guangdong, próspera como o resto do país, há um restaurante, o Cat Meat Hot Pot City (província e estabelecimento especializados em guisado de gato, simplificando), que, como o nome indica, serve nossos bichanos companheirinhos irracionais como prato principal sob a tradicional forma culinária. 
 Deu-se que dois homens de negócios, disputando uma vasta (num país onde tudo é vasto) área de terra florestal, combinaram um almocinho no Cat Meat (só de digitar o nome me dá arrepios): Long Liyuan e Huang Guang. 
 Tudo bem, riram o riso cada vez mais escrutável dos chineses prósperos, comeram seus gatinhos à moda da casa (a receita é "segredo de estado") e seguiu cada um seu caminho. 
 Um probleminha: Long Liyuan passou mal e morreu algumas horas depois de refeição. A família não teve por onde: acusou o outro china, o Huang Guang, de assassinato. 
 Teria ele, afirmam, por uma disputa em torno de terras, envenenado o companheiro com a popular, na China ao menos, "heartbreak grass" ("relva do desgosto"). 
 Envenenamento com fins comerciais. Um caso perfeito para Hercule Poirot desvendar, ou, mais perto de casa, Charlie Chan. 
 O restaurante quase que ia pagando o pato, digo, gato, quando as autoridades intervieram. 
 Alguém mais sagaz tirou as devidas conclusões, peritos foram chamados e o caso de "envenenamento homicida" encontra-se agora na etapa de julgamento, possivelmente, de condenação ou multa (ah, os chineses!). 
 Ao que tudo indica, justiça será feita. À moda chinesa, mas feita. 
Menos aos gatos chineses, que continuarão, em forma de guisado ou croquete, fazendo com que nossos co-irmãos de BRICS estalem a língua só de pensar.












Folha de S.Paulo

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