terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Belém "afunda" e o povo protesta em meio ao caos

No meio da chuva que começou pontual, às 15h, mas que não teve hora para terminar, na tarde de ontem, os moradores do bairro do Jurunas aproveitaram o caos para protestar contra a situação da avenida Fernando Guilhon. Móveis, lixo, pneus e pedaços de madeira serviram de combustível para a barricada armada nas proximidades da avenida com a Bernardo Sayão. As razões da revolta popular são os constantes alagamentos que atrapalham o trânsito no local.
A rua, visivelmente desgastada, mal suportou os poucos minutos de chuva no começo da tarde, e já pelas 16 horas, estava intrafegável. Da porta de sua casa, com uma mureta providencial que impede a entrada da água, o aposentado Raimundo Nonato da Silva observa a confusão armada. “Isso tá assim há muito tempo, o último prefeito a fazer alguma coisa por aqui foi o Hélio Gueiros. Por aí se avalia o tempo que estamos largados por aqui” desabafa Raimundo, que diz já ter perdido móveis e as lajotas do piso de sua casa com os alagamentos, antes de construir o muro que serve de barragem.
Já o carteiro Carlos Humberto de Oliveira, 46, outro morador da Fernando Guilhon, é mais enfático ao criticar a situação da rua. “Com ou sem chuvas a rua fica alagada, pois os diversos canos quebrados e o lixo acumulado fazem com que a água que vaza dos encanamentos fique empoçada, causando esse transtorno. Fechar a rua é a forma que nós temos de protestar e chamar a atenção das autoridades para a nossa causa” ressalta o morador.
O alagamento toma conta de parte da rua e se estende para a calçada da Unidade de Saúde do Jurunas, fazendo com que quem procura atendimento no local acabe correndo o risco de adquirir uma doença por ter que atravessar as águas sujas até a entrada da unidade. “Acho um desrespeito com a comunidade, a gente não sabe nem o que tem de imundície na água, mas precisa do atendimento e se sujeita a essa situação” diz Caroline Salgado, que procurou a Unidade de Saúde na tarde de ontem e precisou enfrentar a chuva e o alagamento, mesmo estando febril.
CHUVA E CAOS
Não era forte, mas contínua. A chuva que desabou em Belém, na tarde de ontem, deu à cidade uma pequena mostra do tormento que ainda está por vir. Em diversos pontos da capital o trânsito cada vez mais frágil literalmente parou. Na avenida João Paulo II, no perímetro entre as travessas Lomas Valentina e Timbó, o que mais se via era água.
As extensas poças foram em poucos minutos se transformando em lagos, e logo o asfalto ficou submerso. Cautelosos, os motoristas trafegavam lentamente, transformando o trânsito em longas filas. E não foi diferente no canal da travessa 14 de Março com Pariquis, ponto crítico de alagamentos da cidade. Apesar das obras de drenagem do canal, durante a tarde de ontem os moradores, mais uma vez, enfrentaram alagamento no local. “Na minha casa já não tenho móveis, por causa do tormento que é quando chove. Até a obra terminar espero que esse problema seja, finalmente, solucionado” desabafa Maria Guilhermina Soares, 45, dona de casa e moradora da rua dos Pariquis há 20 anos.
E tudo pareceu parar durante a chuva. Na avenida Conselheiro Furtado, esquina com Roberto Camelier, era impossível distinguir a calçada do asfalto. Os poucos pedestres que se arriscavam precisaram de coragem para colocar os pés na água e para conseguir se deslocar até um ponto seguro.
SESAN RESPONDE
Os trechos citados na reportagem vão ser beneficiados pela obra da Bacia da Estrada Nova, em andamento, e que favorecerá diretamente 10 bairros da capital, entre eles o Jurunas, e vai solucionar os problemas de alagamentos em determinados pontos considerados críticos, com a construção de bolsões, segundo nota enviada pela assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saneamento - Sesan.
A Sub-Bacia I corresponde a Avenida Bernardo Sayão, da Rua Veiga Cabral até a Rua Fernando Guilhon. Ainda segundo a nota, estão sendo executadas obras de recuperação e implantação do sistema de drenagem, abastecimento de água, coleta e disposição de águas servidas, construção de vias, educação sanitária e ambiental.
O programa prevê ainda ações de melhoria das condições de moradia, através de ordenamento urbano, regularização da posse da terra e implementação de áreas de recreação, além das ações voltadas para a sustentabilidade social e institucional do programa. Será construída também uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), diz ainda, a nota da Sesan.
Maré vai subir 3,4 m acima do normal
Segundo José Raimundo Abreu de Sousa, diretor do Instituto Nacional de Meteorologia, os paraenses podem se preparar para as fortes chuvas e marés acima do normal para os próximos meses até março. “Sob forte influência da lua, a maré nesse período tende a subir consideravelmente, podemos esperar níveis de até 3,4 metros acima do normal” adianta o diretor.
Já para localidades do interior do Estado como Marabá e Santarém, onde as altas da maré já preocupam e mobilizam moradores e defesa civil, José Raimundo explica que o agravante para estes locais é que “as chuvas se acumulam nas cabeceiras dos rios, e quando as águas chegam às localidades são níveis de até 5,2 metros, muito acima do normal”, disse o diretor, mas ele adverte que, para estas localidades, o período mais crítico se concentra no mês de março.














(Diário do Pará)  

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